segunda-feira, 23 de maio de 2011

'Segunda sem Carne' pretende mudar o cardápio de Niterói

A proposta é um dia por semana só com vegetais e frutas à mesa.

imprimir A presença no Rio do ex-Beatle Paul McCartney, um vegan convicto, criou um momento propício para a concretização de uma ideia do secretário de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade de Niterói, Fernando Guida, um ambientalista preocupado com saúde e sustentabilidade, que há tempos pretendia incluir a cidade no movimento "Meatless Day" (Dia sem Carne), surgido nos Estados Unidos em 2003 e que hoje engloba vários países.

No próximo dia 24, Niterói lança o projeto "Segunda sem Carne", em parceria com a Socidade Vegetariana Brasileira. O lançamento do projeto será no Museu de Arte Contemporânea, às 19h30m, reunindo ambientalistas e representantes dos vegetarianos, que falarão sobre temas como defesa animal e alimentação sem carne. O secretário diz que os preparativos para o evento estão indo de vento em popa e todos os envolvidos estão muito motivados, embora ele mesmo reconheça que fazer a população tirar a carne do cardápio ao menos um dia da semana será uma mudança de paradigmas, "como todas, difícil e trabalhosa".


Logotipo da "Segunda Sem Carne" (Foto: Divulgação/Secretaria de Meio Ambiente de Niterói)O secretário diz que o que o motivou a abraçar tal causa foi a vontade de cumprir bem o papel da secretaria e de trabalhar pela melhoria da qualidade de vida da população. Para ele, o projeto é plenamente adequado e, implantado, significa a melhoria da qualidade de vida da população.

"A educação alimentar e ambiental precisam ser alvos constantes do poder público. A ideia do não consumo de carne ao menos uma vez por semana vai nesta direção. A começar pela saúde preventiva, está mais que provado que uma alimentação mais saudável e equilibrada é benéfica para o organismo. As pessoas podem evoluir para paulatinamente consumirem menos carne ou até se tornarem vegetarianos", explica.

Reações
O gerente do Porcão Niterói, Jucier Antunes de Souza, diz que o restaurante está preparado para receber uma clientela vegetariana ou que não coma carne vermelha, pois tem boa oferta de saladas e peixes e frutos do mar. Mas ele explica que, por sua experiência, será difícil fazer a dieta anticarne. "Até na sexta-feira Santa, quando usualmente não se come carne, para nós é dia normal. Restaurante cheio", diz ele. Jucier conta que entre seus clientes ainda não ouviu comentários sobre a proposta da "Segunda sem Carne".

Já o tradicional mercado Império da Banha, no bairro de Santa Rosa, em Niterói, vende tanta carne que muitas vezes o estoque nao é suficiente, diz o gerente Valdeque Pinto da Silva. Principalmente às quartas-feiras, dia de promoção, e aos sábados e domingos, para o churrasco de fim de semana. Ele nada sabia sobre o projeto da prefeitura e também não acredita que a proposta vingue.

"É hábito do povo, nem na Semana Santa o povo deixa de comer carne. E tem churrasco todo fim de semana. Nem a população mais pobre deixa de fazer seu churrasquinho", disse.

Já o secretário acha que pode haver benefício para o comércio, que poderão às segundas-feiras oferecer produtos diferenciados: "Conversei com o dono de uma grande churrascaria que, no início da conversa, riu da ideia, mas depois entendeu que poderia lucrar, oferecendo alternativas saudáveis e anunciar que seu restaurante era amigo da Amazônia".

Nutricionistas
A professora de Nutrição da Uerj Suzana de Freitas prega uma alimentação balanceada em que a carne tem papel importante. Ela explica que a carne, seja bovina, de aves ou suína, é uma fonte proteica de alto valor e qualidade, não encontrada em outro grupo alimentar, a não ser, em menor dimensão, no leite e nos ovos. Mas o ferro encontrado na carne é de alta qualidade e não tem similar em outro grupo alimentar. O ferro é fundamental para o bom funcionamento do metabolismo, e é muito importante para as crianças. Sua deficiência causa anemia.

A especialista diz que 150 gramas de carne por dia suprem todas as necessidades proteicas do ser humano, mas um dia sem carne, como propõe o secretário Fernando Guida, não chega a afetar a saúde. Quem quiser evitar a carne, pode suprir boa parte das necessidades de proteína com a soja, principalmente consumida junto com um cereal, como o arroz.

Já a nutricionista Patricia Cunha vê vantagens na dieta vegetariana, que tem mais fibras, mais gorduras de qualidade e menos gordura saturada, encontrada nos produtos de origem animal. Ela explica que a carne de fato tem proteínas de alta qualidade, mas uma refeição diversificada pode oferecer os mesmos aminoácidos encontrados na carne. Uma refeição equilibrada deve incluir cereais integrais, oleoginosas como nozes e sementes, vegetais coloridos e vegetais de cor verde escura, ricos em ferro. E uma fruta citrica, que vai absorver esse ferro.

Defesa dos animais e do meio ambiente
O secretário Fernando Guida destaca que o "Segunda sem Carne" vai ainda defender os animais "já que eles não têm voz". Para ele, um dia sem carne melhora muito a qualidade do meio ambiente. Ele lembra que o gado é grande emissor de metano, um gás 21 vezes mais perigoso do que o gás carbônico e diz que no Brasil já temos mais gado do que gente.

"Os pesquisadores dizem que a criação de gado já é responsável por cerca de 5% das emissões de gás no Brasil. É muito. E se vender carne é um bom negócio, mais criação de gado haverá. E onde criar mais gado? A pressão é sobre a Amazônia e outros ambientes para transformá-los em pasto", explica.

Lilian Quaino
Do G1 Rio

Fonte:G1

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