segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ervas curandeiras - Ervinhas milagrosas - Mézinhas das nossas avós

Habituais nas farmácias caseiras
A naturopatia está na moda. Que tal uma chávena de chá de camomila ao deitar em vez de um comprimido? O biólogo Jorge Nunes revela as propriedades medicinais e aromáticas das espécies vegetais autóctones mais usadas na medicina tradicional.

"Os desesperados agarram-se às silvas!”, dizia a Ti Piedade enquanto o corpo negro e cansado se curvava sobre os matos espinhosos e as mãos vetustas e calejadas iam ripando as flores da carqueja. “Principalmente, quando já não aguentam os males da boca ou a soltura dos intestinos… e não falo de chupar amoras pretinhas, não senhor...”, acrescentava com um sorriso malandreco.
Momentos mais tarde, ao passar por um silvado florido, fez questão de mostrar que não estava mesmo a referir-se às deliciosas amoras tão apreciadas como frutos silvestres, mas às pontas das silvas: “Folhas tenrinhas e flores fechadas, vê?” Depois de fervidas e bem filtradas – “têm muitos picos, é preciso ter muito cuidado!”, advertia –, servem para bochechar (curam aftas, dores nas gengivas e outras doenças da boca) e, em tisana, aliviam a diarreia (“soltura”, “desarranjo” ou “destempero”, como é uso chamarem-lhe no mundo rural).
Amparada por um varapau, que a ajudava a suportar o peso dos seus quase noventa anos, não perdia o ritmo e avançava com passo ligeiro por entre os tojos e as urzes ressequidas. Do braço esquerdo pendiam dois sacos de plástico com logótipos desbotados de uma grande superfície comercial. Os sinais das catedrais do consumo já chegaram às serranias remotas de São Pedro do Sul. Enquanto as flores de carqueja iam enchendo o saco maior, o mais pequeno permanecia quase vazio. “É do hipericão”, esclarecia sem abrandar a passada, “mas, com este calor, já nem se encontra, está todo mirradinho!”, justificava a dona Piedade.
A carqueja recolhida naquela tarde ainda precisava de mais alguns dias para secar e ser devidamente acondicionada. Depois, ficaria a aguardar a chegada dos rigores invernosos, das gripes e tosses trazidas pelas chuvas fortes, pelos mantos brancos de neve e pelos ventos gélidos que costumam atravessar de forma inclemente os maciços de Montemuro e da Gralheira. As “Terras do Demo”, como tão oportunamente lhes chamou Aquilino Ribeiro, o grande romancista beirão.  
Embora aquele dia tivesse servido essencialmente para a apanha da carqueja e do hipericão-bravo, a anciã acabou por confidenciar que a sua farmácia caseira incluía um sem-número de outras “ervinhas milagrosas”, que ia recolhendo ao longo de todo o ano. “Ervas que fazem bem a tudo” e que mantém guardadas em frasquinhos e saquinhos, prontas para quando houver uma ferida, uma tosse, uma diarreia, uma febre ou uma gripe.
Mézinhas das nossas avós
O relato, colhido, juntamente com a carqueja e o hipericão, no distrito de Viseu, poderá parecer apenas mais uma recolha etnográfica, igual a tantas outras memórias que se vão apagando à medida que as comunidades rurais entram em declínio por causa do êxodo rural e do desaparecimento dos seus anciãos, portadores de importantes saberes e tradições que acabam por ser enterrados com eles, muitas vezes, sem que haja qualquer hipótese de serem legados às gerações vindouras, como acontecia antigamente. Porém, basta percorrer qualquer aldeola portuguesa para se perceber que o rol de utilizações das ervas é infindável e que, afinal, este relato poderia muito bem ter sido gravado em qualquer outra região. Por todo o país, do nordeste transmontano ao Barrocal algarvio, passando pelas ilhas-jardim, são muitas as pessoas, nomeadamente os mais velhos, que continuam a recolher da natureza as plantas com poderes curativos.
Desde tempos que a memória já não lembra, sempre se aproveitaram as virtudes das plantas que floresciam espontaneamente por montes e vales. Mas “quem tem tesouros não os exibe”, diz o povo. Por isso, não é de estranhar que, no início, as panaceias e mézinhas fossem saberes privados guardados sigilosamente como se de tesouros familiares se tratasse. No entanto, com o passar dos séculos, foram-se tornando públicos e acessíveis a toda a comunidade. E, tal como no folclore e na gastronomia, também nas ervas medicinais cada região tem a sua tradição. Nem poderia ser de outro modo, porque a distribuição das plantas é, por vezes, circunscrita a determinadas zonas de acordo com os fatores climáticos e edáficos que as influenciam. Não é, por isso, de estranhar que existam diferentes “receitas” para o mesmo mal. É caso para dizer: cada avózinha, sua mézinha!
Do campo para a cidade
A utilização das plantas, quer para fins alimentares quer medicinais, é quase tão antiga como o próprio homem. Embora o seu uso medicinal seja habitualmente conotado com práticas mais ou menos obscurantistas, que persistem sobretudo no bucólico da ruralidade, as plantas não servem apenas para tratar as maleitas dos nossos camponeses. Nas grandes cidades, apesar de muito deste património cultural se ir desvanecendo, assistimos na atualidade a um regresso às origens, em busca daquilo que a terra nos dá. Prova disso é que não haverá casa portuguesa sem o cantinho das ervas: a erva-cidreira para as perturbações gástricas, a tília para febres e doenças hepáticas, a camomila para a gripe, entre muitas outras que cada um escolhe a seu bel-prazer.
Muitas das mézinhas das nossas avós, a que é usual chamar “medicina tradicional”, “natural” ou “verde”, coexistem, afinal, com a medicina convencional, dos médicos, na qual abundam cock­tails químicos injetáveis, xaropes industriais e drageias de todas as cores e feitios.
Ainda que não haja dados estatísticos sobre o número de pessoas que recorrem à medicina natural, uma vez que se trata de autoconsumo e não são necessárias receitas médicas para este género de terapia, pensa-se que a naturopatia está em crescendo. São cada vez mais os adeptos da medicina verde. Em suma, quando o objetivo é acalmar a alma, fortalecer o corpo e aliviar a dor, ninguém se importa de onde vem o remédio, desde que se revele eficaz.
Formas sugestivas
Não é difícil imaginar por que razão algumas plantas começaram a ser utilizadas como curandeiras. Basta olhar para elas. As suas formas sugestivas, imitando órgãos do corpo humano, terão despertado a curiosidade e levado ao seu emprego na cura das maleitas a eles associadas. Estas crenças originaram, nos séculos XVI e XVII, a chamada “doutrina das assinaturas”, segundo a qual Deus teria indicado as virtudes de cada planta dando-lhe uma forma similar ao órgão sobre o qual atuava. Por exemplo, os tubérculos de certas orquí­deas, que se assemelham aos testículos humanos, possuiriam propriedades afrodisíacas, e as folhas das hepáticas, em forma de fígado, seriam indicadas para os problemas relacionados com esse órgão. Ou então, dando-lhe um aspeto idêntico aos sintomas externos de determinada doença (as ervas com seiva amarela, como a celidónia, eram utilizadas no tratamento da icterícia, o feto polipódio era usado para curar a varicela, pois os seus esporângios, situados na página inferior das folhas, assemelham-se às pústulas originadas por essa doença). Embora nem sempre se verificasse a tão almejada cura, cedo se percebeu que quase todas as plantas possuíam propriedades medicinais, que compuseram o vasto leque de conhecimentos empíricos legados às gerações vindouras.
A doutrina das assinaturas estendeu-se de igual modo aos fungos: o exemplo mais conhecido é o do cogumelo porra-de-lobo ou picha-de-cão (Phallus impudicus), ao qual, devido à sua forma idêntica ao pénis humano, foram também atribuídas propriedades afrodisíacas. Entre os líquenes, destaca-se a pulmonária (Lobaria pulmonaria), que foi largamente utilizada no tratamento das úlceras pulmonares, em virtude da sua semelhança com um pulmão.
Embora estas crenças nos possam parecer ridículas no presente, é compreensível que, na antiguidade, se tenha entendido as formas das plantas semelhantes a órgãos como sinais divinos. Em pleno século XXI, muitos camponeses sem a influência dos ensinamentos escolares e dos conhecimentos científicos continuam a vê-las como tal.
Curar sem químicos?
A utilização das plantas com propósitos medicinais vem de há longa data; no entanto, o papel fundamental que lhes era atribuído na medicina da Idade Média foi-se desvanecendo com os avanços científico-tecnológicos da era moderna. Hoje em dia, muitos dos seus princípios ativos já são sintetizados artificialmente, através da biotecnologia a que recorre a indústria farmacêutica. Apesar disto, ainda existe uma considerável percentagem de medicamentos prescritos pelos médicos que resulta da utilização direta de plantas, sobretudo quando a síntese artificial do princípio ativo não é conseguida ou não é economicamente favorável.
Segundo o Decreto-Lei 176/2006, é definido como medicamento à base de plantas “qualquer medicamento que tenha exclusivamente como substâncias ativas uma ou mais substâncias derivadas de plantas, uma ou mais preparações à base de plantas ou uma ou mais substâncias derivadas de plantas em associação com uma ou mais preparações à base de plantas”.
Permanece, contudo, o preconceito de que as ervas medicinais recolhidas na natureza são boas para a saúde porque não têm químicos, o que não é verdade. A razão por que são usadas para fins curativos é exatamente porque possuem determinadas substâncias químicas que vão influenciar a fisiologia do organismo. Eduardo Ribeiro, biotecnólogo e especialista em suplementos alimentares e plantas medicinais, lembra que “uma planta medicinal é constituída por um complexo conjunto de moléculas com efeitos fisiológicos comprovados, mas cuja ação ao nível do organismo não é facilmente percecionada”.
Através do seu metabolismo, quase todas as plantas conhecidas produzem substâncias com propriedades medicinais ou odoríferas, como esteróides, alcalóides, óleos essenciais, taninos, vitaminas, elementos minerais e antibióticos, entre muitas outras. Dito de outro modo, possuem determinado princípio ativo que lhes confere valor terapêutico. Por isso mesmo, terão sido empregadas, de acordo com estudos antropológicos, desde o Paleolítico, embora os vestígios farmacêuticos mais antigos nos tenham chegado das civilizações mesopotâmica e egípcia.
Para além da utilização que se vai fazendo das plantas, principalmente pelos habitantes das zonas rurais e pelos clientes da naturopatia, a indústria farmacêutica não deixa de procurar novas propriedades curativas nas plantas silvestres. Embora a medicina convencional não reconheça completa validade terapêutica à naturopatia, é absurdo desprezar alguns tratamentos centenários da medicina popular, muitos deles com eficácia comprovada. Quem nunca bebeu chá de camomila como calmante, tomou mel com limão para curar as dores de garganta, bebeu chá de cidreira para as dores de estômago ou tomou xarope de cenoura para a tosse? Quantas vezes as mézinhas de fabrico caseiro, passadas de geração em geração, fazendo parte da identidade cultural de um povo, solucionam os problemas de saúde e restabelecem o bem-estar, sem necessidade de apoio médico? Muitas dessas receitas caseiras podem ainda ser ouvidas da boca dos sábios rostos enrugados pelos anos, em qualquer das muitas aldeias de Portugal, que teimam em manter vivos os costumes e tradições.
No entanto, embora use produtos naturais culturalmente muito interessantes, a verdade é que a medicina natural pode apresentar alguns riscos, nomeadamente quanto ao controlo de qualidade, à utilização indevida e aos efeitos secundários em determinadas doenças, como avisa Elsa Gomes, professora aposentada da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
Em muitos casos, a medicina convencional coexiste com as medicinas popular e alternativa. Os doentes, consoante os resultados obtidos com os tratamentos, dividem a sua crença entre médicos e “curandeiros”, “endireitas”, “sábios”, “bruxas” e “homens de virtude”. Apesar de os efeitos farmacológicos de muitas mézinhas estarem ainda por investigar e comprovar, a medicina moderna vai aprendendo a conviver com alguns desses remédios populares; de facto, quando a medicina ainda dava os primeiros passos, já o povo tinha remédios para a maior parte das maleitas.
“A elaboração de remédios caseiros está também hoje em dia facilmente acessível via internet, sendo possível aprender como fazê-los e quais as suas indicações.” Quem o afirma é o médico Luiz Santiago, autor de Medicamentos e Corpo – Consumidores de Fármacos: o que Pensam e o que Sabem... “No entanto, dose e posologia são duas grandes lacunas que se observam, quando consultada a informação”, alerta.
Curativas e aromáticas
Além das propriedades medicinais, culinárias e cosméticas, muitas plantas são utilizadas para a elaboração de estupefacientes. Por exemplo, a dormideira, parente próxima das nossas papoilas, é cultivada na Índia, no Egito e na China para a obtenção de ópio. Esta droga, já conhecida na antiguidade, fornece numerosas substâncias medicinais: morfina, codeína e papaverina. Da dormideira, obtém-se ainda um óleo idêntico ao do girassol, sendo muitas vezes utilizada como alimento. Só de uma parte insignificante da planta, o látex das cápsulas, se obtêm os alcalóides opiáceos, com larga utilização na medicina moderna, onde são usados como calmantes e antiespasmódicos.
Os extratos de plantas empregam-se para preparar diversas soluções medicinais, das quais resultam tinturas, essências e sucos usados para elaborar xaropes (bebidas que resultam geralmente da maceração de várias plantas), infusões (bebidas feitas com o aproveitamento do líquido resultante da fervura dos vegetais), pomadas e emplastros (ervas, frescas ou cozidas, intactas ou maceradas, aplicadas sobre a zona afetada) e inalações (plantas vertidas num recipiente com água a ferver do qual se inala o vapor).
As ervas aromáticas são usadas na indústria alimentar e na cozinha dietética. Aliás, a gastronomia tradicional, característica de cada região do país, vive muito do toque especial que lhe é dado pelas ervas. Algumas dessas plantas têm presença obrigatória em vários pratos: os coentros na sopa de peixe, os cominhos nas tripas à moda do Porto, os orégãos nos caracóis, a salsa no bacalhau à Brás, o louro e o alho no coelho à caçador, a hortelã no arroz de maranho, etc.
A grande maioria das plantas consideradas úteis foi domesticada, existindo já variedades de cultivo. Deste modo, as indústrias farmacêutica e alimentar têm-nas sempre à disposição, sem dependerem da mãe-natureza para as obter quando precisam. Mas nem sempre assim é. Muitas vezes, as “plantas milagrosas” ainda continuam a ser recolhidas nos espaços naturais. Embora isso não seja preocupante quando é realizado pelas populações locais para consumo próprio, pode assumir graves proporções quando se trata de colheita indiscriminada e pouco escrupulosa, realizada para saciar os apetites gulosos do comércio florescente de produtos naturais. Servem de exemplo desta recolha desregrada, com a agravante de ocorrerem em áreas protegidas, a salva-brava (Phlomis lychnitis) colhida no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros para ser enviada para a América, e o hipericão-do-Gerês (Hypericum androsaemum), coletado no Parque Nacional da Peneda-Gerês e vendido localmente para chá.
Ainda que as plantas medicinais e aromáticas devam ser consideradas como um recurso económico que as populações locais podem explorar, a inexistência de legislação que regulamente o setor favorece a venda de gato por lebre e pode pôr em perigo algumas espécies. Impõe-se, por isso, a criação de regulamentação e fiscalização adequadas à exploração sustentável deste recurso natural.
Para a dona Piedade, alheia às leis dos homens, a tradição será mantida enquanto viver: “Se Deus quiser, no próximo ano voltarei às ervinhas…Preciso delas para chegar aos noventa!”, dizia com um sorriso, muito alegre, que parecia apagar por momentos as rugas profundas e o sofrimento de uma vida penosa. Pois que seja feita a sua vontade!
J.N.

Colheita e uso das plantas
A recolha de plantas com potencialidades farmacêuticas e culinárias pode ser um passatempo interessante, que alia a medicina tradicional a um mais profundo conhecimento e respeito pela natureza. No entanto, não basta sair por aí a colher indiscriminadamente todas as plantas, é necessário conhecer muito bem as “ervas” e as suas propriedades. Eis alguns conselhos.
Utilize somente as plantas cujas propriedades estejam devidamente identificadas. Lembre-se de que os ingredientes ativos das plantas variam, tanto em quantidade como em qualidade, ao longo do ano.
Certifique-se de que identificou corretamente a planta e que nenhuma outra espécie vem misturada.
Nunca efetue recolhas em áreas que tenham sido pulverizadas com inseticidas ou pesticidas ou que tenham sido estrumadas recentemente. Na recolha de plantas aquáticas, evite águas poluídas.
Conheça quais as partes da planta que podem ser utilizadas na medicina natural. Por exemplo, na batateira, o tubérculo (batata) é um precioso alimento, enquanto a parte aérea é venenosa.
Recolha apenas a quantidade necessária, e sempre que possível evite arrancar a planta: muitas vezes, as partes úteis são apenas as folhas, as flores ou os frutos.
Evite a utilização de um remédio vegetal quando já está a ser alvo de um tratamento convencional receitado pelo médico. O efeito de duas “drogas” pode ser muito prejudicial. Fale abertamente com o seu médico sobre este assunto.
Nunca apanhe plantas raras ou em perigo de extinção, nem faça recolhas em áreas protegidas.
As “plantas milagrosas” também têm os seus riscos: peça apoio a um especialista.
Quem não seja dado a grandes passeios campestres ou não queira correr riscos, garantindo a salvaguarda da natureza, encontrará a grande maioria destas ervas em qualquer supermercado, dietética ou ervanária.

Farmácia caseira
Quando se fala de primeiros socorros, a medicina popular é bastante simples e prática: se existe ferida, aplica-se calêndula; se não, usa-se arnica. Uma regra tão clara pode, no entanto, induzir-nos em erro, levando-nos a pensar que a farmácia caseira se resume a apenas duas ervinhas, quando, na verdade, se conhecem mais de quatrocentas espécies de plantas medicinais. Segue-se um pequeno guia das plantas (para cada uma indica-se o nome comum e a denominação científica, porquanto os nomes vulgares variam muito de região para região) com lugar assegurado em qualquer farmácia natural, mas não se pense que são as únicas.
Alecrim (Rosmarinus officinalis) – As folhas estimulam a circulação e aliviam a dor. Atua sobre o sistema nervoso e fortalece a memória. Utiliza-se no tratamento de insuficiências hepáticas e vesiculares, uma vez que possui propriedades diuréticas. Alivia a asma, as amigdalites e a obstrução nasal e aumenta o apetite.
Alfazema (Lavandula officinalis) – Em tisana, alivia as dores de cabeça e acalma os nervos. Utiliza-se na asma brônquica, na tosse, nas enxaquecas, nas gripes e em certos casos de reumatismo.
Arnica (Arnica montana) – As suas flores e raízes usam-se como estimulantes cardíacos, sob estrito controlo médico, dado que se trata de uma planta tóxica. No uso externo, estimula a reabsorção dos hematomas e tem propriedades antissépticas e cicatrizantes.
Borragem (Borago officinalis) – A borragem é um remédio de ação suave muito apreciado na medicina popular. Para aproveitar o efeito calmante e emoliente das suas flores, fazem-se excelentes infusões que tratam a incómoda tosse das bronquites. Utiliza-se como depurativo, diurético, laxativo e sudorífico.
 
Calêndula (Calendula officinalis C. arvensis) – Faz parte de numerosos preparados farmacêuticos e cosméticos e as suas propriedades bactericidas e cicatrizantes converteram-na na planta ideal para os cuidados da pele. Usa-se para curar feridas e limpar a pele com acne ou descamação, nas queimaduras, nas picadas de insetos, etc.
Camomila (Matricaria chamomilla) – A infusão das flores produz uma tisana tónica e sedativa. Usa-se no banho para aliviar as queimaduras do sol. É habitualmente utilizada para acalmar espasmos e convulsões, como anti-inflamatório, antisséptico, etc.
Carqueja (Chamaespartium tridentatum) – Acalma a tosse e as irritações da faringe, sendo muito utilizada nas gripes, nas bronquites, na pneumonia e nas traqueítes.
Cidreira (Melissa officinalis) – Em infusão, alivia o catarro provocado pela bronquite crónica, as constipações febris e as dores de cabeça. Utiliza-se como calmante e no tratamento de perturbações gástricas e de dores de cabeça de origem nervosa.
Dente-de-leão (Taraxacum officinale) – É diurético e destaca-se no combate à arteriosclerose, à celulite, à tensão alta e ao mau colesterol. Usa-se ainda nos problemas de fígado e vesícula.
Erva-de-São-Roberto (Geranium robertianum) – Possui propriedades adstringentes, espasmódicas, diuréticas, hemostáticas e hipoglicemiantes. Utiliza-se em problemas de estômago, hemorragias pulmonares ou nasais, diarreias e cálculos renais e urinários.
Hipericão-bravo (Hypericum perforatum) – É antisséptico, cicatrizante, diurético e sedativo. Utiliza-se na depressão, na insónia, nas infeções ginecológicas e nas inflamações crónicas do estômago, do fígado, da vesícula e dos rins. Além disso, ajuda nas dores musculares e nevralgias e no herpes labial.
Hipericão-do-Gerês (Hypericum androsaemum) – Tem propriedades diuréticas e estimula a libertação da bílis. Utiliza-se nos tratamentos hepáticos.
Lúcia-lima (Lippia citriodora) – Combate, sobretudo, as perturbações digestivas e nervosas. Usa-se contra as indigestões, a flatulência e o mau hálito e como calmante.
Malva (Malva silvestris) – Apresenta propriedades anti-inflamatórias e utiliza-se na lavagem de feridas e como calmante sobre a pele e as mucosas inflamadas. Em infusão, usa-se em casos de diarreia, úlceras no estômago, catarros e obstrução das vias respiratórias, e ainda como laxativo.
Orégão (Origanum vulgare) – Em tisana, combate a tosse, as dores de cabeça nervosas e a irritabilidade. Utiliza-se contra a gripe, as constipações, as febres e a indigestão.
Poejo (Mentha pulegium) – Usa-se como calmante e contra indigestões, gripes, bronquites e dores menstruais. Não deve ser tomado durante a gravidez ou em caso de problemas renais.
Rosmaninho (Lavandula stoechas) – Tem propriedades sedativas, antissépticas, inseticidas, cicatrizantes, diuréticas e sudoríferas. Utiliza-se também para aliviar as náuseas e estimular a circulação.
Salva (Salvia officinalis) – Depois das refeições, a infusão de folhas ajuda a fazer a digestão. É antisséptica e fungicida e contém estrogéneos. Utiliza-se contra a depressão, as inflamações da boca e da garganta, a diarreia e os afrontamentos da menopausa.
Tília (Tilia cordata) – Tem propriedades diuréticas e sedativas. Usa-se contra febres, acidez gástrica e doenças hepáticas e biliares.
Urze (Calluna vulgaris) – É adstringente, antisséptica e diurética. Usa-se contra problemas urinários, diversas afeções renais e hipertrofia da próstata.
Zimbro (Juniperus communis) – As falsas bagas desta planta tiveram na Idade Média uma extraordinária celebridade, pois supunha-se que faziam curas miraculosas. É usado como depurativo e diurético. Entra na confeção de alguns pratos, serve para condimentar o presunto fumado e é o principal ingrediente na preparação do gin (bebida alcoólica destilada).

Os primeiros boticários
Durante a época áurea dos Descobrimentos, trouxemos para a Europa, vindos dos quatro cantos do mundo, produtos de origem vegetal, principalmente especiarias. Rapidamente se fez sentir a necessidade de descrever tudo quanto de útil se descobrisse. Por essa razão, foram enviados boticários nas naus que partiam a caminho de África, das Américas e do Oriente, aos quais competia averiguar e registar todas as mezinhas usadas pelos povos de além-mar, assim como descrever a natureza e a origem das “drogas e cousas medicinais”, assim como as suas propriedades e aplicações.
Nessa importante tarefa, distinguiram-se Simão Álvares e Tomé Pires, boticários enviados para a Índia por ordem do rei D. Manuel I, mas foi sem dúvida Garcia de Orta quem mais se notabilizou no estudo das espécies medicinais e outros produtos originários do Índico. O seu livro Colóquio dos simples, e drogas he cousas medicinais da Índia..., publicado em 1563, adquiriu fama internacional, nomeadamente após ter sido traduzido para latim, francês e italiano.
Depois do deslumbramento com as novidades farmacêuticas e culinárias trazidas dos “novos mundos”, o interesse dos boticários voltou-se para as potencialidades da flora espontânea do nosso país, conhecidas desde tempos imemoriais pelas gentes autóctones. Ainda a medicina dava os primeiros passos e já o povo lusitano tinha remédios caseiros para a maior parte das maleitas que atormentavam crianças e adultos.
Os estudos farmacopeicos portugueses tiveram início, provavelmente, com o abade Correia da Serra, nascido em 1750, figura altamente prestigiada da comunidade botânica internacional da época e fundador da Academia Real das Ciências. Seguiram-se-lhe outras personalidades ilustres, como Félix da Silva Avelar Brotero, nascido em 1744, Jerónimo Joaquim de Figueiredo, autor de Flora Farmacêutica e Alimentar Portuguesa, publicado em 1825, Francisco Soares Franco, compilador de Matéria Médica, impresso em 1816, e Agostinho Albano da Silveira Pinto, que publicou em 1835 o Código Farmacêutico Lusitano.

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